Um Mito Chamado Planejamento
By NosAcréscimos 12:45 Campeonato Brasileiro, Cruzeiro, Leonardo Parrela
Existem diversas razões
que explicam a crise que o futebol brasileiro atravessa. Dentre todas essas,
existe um mito no nosso universo futebolístico chamado planejamento. O mais recente dos casos é Mano Menezes, que provavelmente abandonará o “projeto” (saudades Luxa) no Cruzeiro para aceitar uma bolada e ir
treinador o poderosíssimo Shandong Luneng, do novo hipercentro do mundo da
bola, a China.
#partiuChina (Foto: Superesportes MG) |
Veja
que Mano Menezes não é o único. Das 20 equipes presentes na Série A do
Brasileirão apenas o
campeão Corinthians – coincidentemente, diriam alguns –
manteve seu técnico do começo ao final do campeonato. Foram 32 trocas de
treinadores em 37 rodadas. O mesmo time chega a ter três comandantes durante o
mesmo campeonato.
Vale a ressalva aqui que nem sempre esses três compartilham a
mesma visão tática, o mesmo gosto pelos jogadores. Pede um reforço, coloca
fulano pra treinar separado, investe nesse outro. Imagine esse começo várias
vezes por ano. Uso o Cruzeiro como base, pois vi a maioria dos jogos o ano
todo. Apenas Deus sabe o quanto sofremos com Marinho e Allano como titulares
vendo Arrascaeta e William sem espaço.
Quantos são os
treinadores que não duram nem os Estaduais? Estaduais esses que na prática,
valem apenas para derrubar o técnico. A diretoria quase nunca é culpada e
escolhem a saída mais fácil. Você consegue imaginar um treinador demitido na
Europa porque foi mal na pré-temporada? É mais ou menos o que acontece por
aqui.
Outro exemplo: a saída
de Levir Culpi, do Atlético Mineiro. Dono de um primeiro turno excelente foi
perdendo peças pelo caminho e a diretoria não repôs. O rendimento do time caiu
e adivinha quem pagou o pato? Demitir o treinador é sempre a saída mais fácil
para um Presidente “mostrar serviço” a sua torcida.
Aliás, o que não falta
são exemplos de diretorias que fazem dívidas e mais dívidas e deixam para o
próximo mandatário acertar. Não pensam em fortalecer a base do clube, investir
em maneiras do clube conseguir renda de formas diferentes, além das receitas da
TV. Até com isso fazem cagada, adiantando valores para fazer dívidas ainda maiores.
A volatilidade do mercado de treinadores é enorme e não há garantias que alguém permaneça por mais de seis meses. Tem o fato de que trocar o treinador também não é algo que sai de graça. Mais dívidas para os clubes que já andam pra lá do vermelho no quesito contas.
A volatilidade do mercado de treinadores é enorme e não há garantias que alguém permaneça por mais de seis meses. Tem o fato de que trocar o treinador também não é algo que sai de graça. Mais dívidas para os clubes que já andam pra lá do vermelho no quesito contas.
A
demissão às vezes é usada como um “fato novo”, uma motivação para o jogador.
Pera aí, você quer me convencer que um cara que pratica um esporte de alto
nível, reconhecido em grande parte do país e se diverte na profissão, precisa
desse tipo de motivação? No livro “Os números do jogo (Chris Anderson, David
Sally, 2013)” é mostrado um gráfico no qual mostra que isso é balela e o
rendimento acaba por cair da mesma maneira. Luxemburgo, neste ano mesmo no
Cruzeiro e Oswaldo de Oliveira no Flamengo, são exemplos que me passam agora a
cabeça.
Nessa tocada ainda
existe a audácia de falarem em planejamento. Como que um time pode planejar o
ano todo, reforços, esquemas táticos sendo que a garantia que o treinador
resista a três derrotas é mínima? A cultura do resultado precisa mudar. Será
que é tão complicado a diretoria sentar e pensar num nome que dure o ano todo?
Precisamos de um treinador com tais características e assim, correr atrás desse
perfil no mercado.
Aqui também vale
lembrar que para o técnico cobrar algo, ele tem que se preparar. Não adianta
sempre apostar em nomes consagrados sendo que estes não estudam e se atualizam
para melhorar a visão do esporte que muda constantemente. Tite é um exemplo de
que sempre existe espaço para se aperfeiçoar, Muricy Ramalho buscou o mesmo
caminho e em 2016 tem a chance de mostrar sua “nova cara”.
Uma solução legal que
já acontece em outros Campeonatos ao redor do mundo é: treinador que começar o
torneio por uma equipe, não pode treinar outra na mesma competição. Isso
evitaria um bom percentual de trocas. Apenas com essa medida seria evitado um efeito dominó grande entre os clubes que participam dos torneios e daria mais estabilidade a quem está desenvolvendo seu trabalho.
São várias pequenas
mudanças que precisam ser feitas ao longo do tempo para melhorar a falta de
profissionalismo que envolve essa questão. A esperança é que aos poucos mude,
pois não é fácil quebrar um hábito cultural. Até que sinais dessa mudança
apareçam, não me venham falar em planejamento.