Um Mito Chamado Planejamento

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Existem diversas razões que explicam a crise que o futebol brasileiro atravessa. Dentre todas essas, existe um mito no nosso universo futebolístico chamado planejamento. O mais recente dos casos é Mano Menezes, que provavelmente abandonará o “projeto” (saudades Luxa) no Cruzeiro para aceitar uma bolada e ir treinador o poderosíssimo Shandong Luneng, do novo hipercentro do mundo da bola, a China.

Mano chegou a afirmar em entrevista que não é vantajoso para um treinador sair de um lugar onde o treinador pode mostrar seu serviço e aceitar uma proposta milionária para treinar em um lugar onde não haja visibilidade. O mundo dá voltas e os dólares seduzem. Eu, cruzeirense que sou, sou grato ao Mano e pelo bem que fez ao Cruzeiro nessa curta passagem. Porém a sua saída escancara um problema grave e estrutural presente no nosso amado esporte.

#partiuChina (Foto: Superesportes MG)

Veja que Mano Menezes não é o único. Das 20 equipes presentes na Série A do Brasileirão apenas o 
campeão Corinthians – coincidentemente, diriam alguns – manteve seu técnico do começo ao final do campeonato. Foram 32 trocas de treinadores em 37 rodadas. O mesmo time chega a ter três comandantes durante o mesmo campeonato.

Vale a ressalva aqui que nem sempre esses três compartilham a mesma visão tática, o mesmo gosto pelos jogadores. Pede um reforço, coloca fulano pra treinar separado, investe nesse outro. Imagine esse começo várias vezes por ano. Uso o Cruzeiro como base, pois vi a maioria dos jogos o ano todo. Apenas Deus sabe o quanto sofremos com Marinho e Allano como titulares vendo Arrascaeta e William sem espaço.

Quantos são os treinadores que não duram nem os Estaduais? Estaduais esses que na prática, valem apenas para derrubar o técnico. A diretoria quase nunca é culpada e escolhem a saída mais fácil. Você consegue imaginar um treinador demitido na Europa porque foi mal na pré-temporada? É mais ou menos o que acontece por aqui.

Outro exemplo: a saída de Levir Culpi, do Atlético Mineiro. Dono de um primeiro turno excelente foi perdendo peças pelo caminho e a diretoria não repôs. O rendimento do time caiu e adivinha quem pagou o pato? Demitir o treinador é sempre a saída mais fácil para um Presidente “mostrar serviço” a sua torcida.

Aliás, o que não falta são exemplos de diretorias que fazem dívidas e mais dívidas e deixam para o próximo mandatário acertar. Não pensam em fortalecer a base do clube, investir em maneiras do clube conseguir renda de formas diferentes, além das receitas da TV. Até com isso fazem cagada, adiantando valores para fazer dívidas ainda maiores.

A volatilidade do mercado de treinadores é enorme e não há garantias que alguém permaneça por mais de seis meses. Tem o fato de que trocar o treinador também não é algo que sai de graça. Mais dívidas para os clubes que já andam pra lá do vermelho no quesito contas.

A demissão às vezes é usada como um “fato novo”, uma motivação para o jogador. Pera aí, você quer me convencer que um cara que pratica um esporte de alto nível, reconhecido em grande parte do país e se diverte na profissão, precisa desse tipo de motivação? No livro “Os números do jogo (Chris Anderson, David Sally, 2013)” é mostrado um gráfico no qual mostra que isso é balela e o rendimento acaba por cair da mesma maneira. Luxemburgo, neste ano mesmo no Cruzeiro e Oswaldo de Oliveira no Flamengo, são exemplos que me passam agora a cabeça.

Nessa tocada ainda existe a audácia de falarem em planejamento. Como que um time pode planejar o ano todo, reforços, esquemas táticos sendo que a garantia que o treinador resista a três derrotas é mínima? A cultura do resultado precisa mudar. Será que é tão complicado a diretoria sentar e pensar num nome que dure o ano todo? Precisamos de um treinador com tais características e assim, correr atrás desse perfil no mercado.

Aqui também vale lembrar que para o técnico cobrar algo, ele tem que se preparar. Não adianta sempre apostar em nomes consagrados sendo que estes não estudam e se atualizam para melhorar a visão do esporte que muda constantemente. Tite é um exemplo de que sempre existe espaço para se aperfeiçoar, Muricy Ramalho buscou o mesmo caminho e em 2016 tem a chance de mostrar sua “nova cara”.

Uma solução legal que já acontece em outros Campeonatos ao redor do mundo é: treinador que começar o torneio por uma equipe, não pode treinar outra na mesma competição. Isso evitaria um bom percentual de trocas. Apenas com essa medida seria evitado um efeito dominó grande entre os clubes que participam dos torneios e daria mais estabilidade a quem está desenvolvendo seu trabalho.

São várias pequenas mudanças que precisam ser feitas ao longo do tempo para melhorar a falta de profissionalismo que envolve essa questão. A esperança é que aos poucos mude, pois não é fácil quebrar um hábito cultural. Até que sinais dessa mudança apareçam, não me venham falar em planejamento. 

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