As gerações (quase) de ouro da Holanda

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Temos vários exemplos no mundo do futebol que nem sempre ganha o melhor. Para nós brasileiros, o primeiro exemplo que nos vem à mente, é a seleção de 82. Toque de bola refinado, craques, jogo limpo e de qualidade que... parou no catenaccio italiano, que seria campeão mundial daquele torneio. Porém, não é só no Brasil que existem esses exemplos. Se somos "azarados" por 82, imagina se esse mesmo raio caísse no mesmo lugar outra vez. Foi o que aconteceu com a Holanda.

A primeira geração


Equipe alinhada para a final da Copa de 74 contra a Alemanha
Lá no longínquo ano de 1974 o primeiro exemplo e aqui tentarei ser o mais breve possível sobre. Na seleção foi implementado um sistema que já dava certo no Ajax no período de 1965-1973 conhecido como futebol total. Cada jogador, a exceção do goleiro, não guardava sua posição no campo. O sistema era bem perigoso e dependia muito da habilidade de cada jogador a se adaptar a função mais próxima de onde estivesse no campo. Comandados pelo técnico Rinus Michel e pelo maestro Johann Cruyff, a Laranja Mecânica - como assim ficou conhecida - brilhou na Copa de 74 e chegou a vencer o Brasil, então Campeão Mundial, mas não levou o caneco. A quantidade de talento naquela geração era impressionante e mesmo assim a Holanda não conseguiu levantar nenhum título. Parou na Alemanha na final da Copa de 74, na Tchecoslováquia na semi da Euro de 76 (já sem Rinus Michel) e na Argentina em outra final de Copa, em 78.

Renovação e brilho único
Time campeão da Eurocopa de 1988



Saltamos a década de 80 que foi marcada por dificuldades enfrentadas na renovação da seleção. Logo na Euro de 1980, caiu na primeira fase. Ficou de fora das Copas de 82 e 86. Porém a geração de Frank Rijkaard, Marco Van Basten e Ruud Gullit voltou a ser comandada por Rinus Michel. Em 88 deu a alegria solitária ao seu país, na Eurocopa. O time holandês foi campeão batendo na final a União Soviética e deixando pelo caminho Alemanha, Inglaterra e outros fortes times. Porém o sucesso estacionou por aí. Na Copa do Mundo de 90, derrota para a Alemanha (sempre ela!) nas oitavas-de-final. Em 92 a derrota na Eurocopa veio para os futuros campeões da Dinamarca, nas semi-finais.

Nova leva de craques 

 A renovação dessa equipe se fez necessária e deu sinais positivos na Copa do Mundo de 1994. Mesclando nomes experientes como os de Rijkaard, Ronald Koeman, Danny Blind o time adicionou talentos novos como Edwin Van Der Sar, Frank de Boer, Marc Overmars, Ronald de Boer, Dennis Bergkamp e comandados do Dick Advocaat, levaram a Holanda as quartas-de-final naquela Copa, perdendo para o Brasil em um jogo até hoje lembrado pelo nível alto de disputa e pelo gol salvador de Branco.

O time, que tinha novamente uma ótima base de talentos e voltou a se inspirar no Ajax. Em 1995, os comandados de Louis Van Gaal dominaram não só a Europa, como todo o globo. Campeões da Uefa Champions League e da Copa Intercontinental, o time contava com Edgar Davids, Patrick Kluivert, Clarence Seedorf, Michael Reizeger, somando forças com os experientes Rijkaard, Koeman e Blind. A equipe formou a base da seleção que disputaria Euro de 1996 e pararia nos pênaltis contra a França, nas quartas de final.

O segundo quase lá
DE PÉ: Van Der Sar. Seedorf, Bergkamp, Stam, Cocu, Jonk; AGAIXADOS: Numan, Davids, F de Boer (C), Zenden, Kluivert.

A Holanda entraria na Copa de 98, treinada por Guus Hiddink, sabendo do seu enorme potencial pois tinha feito campanhas sólidas nos torneios anteriores. Não em função dos resultados, que não foram dos mais belos, mas por usar essas competições para lapidar seus talentos, que estavam em formação e chegar como uma das fortes candidatas a ganhar o título.

A fase de grupos foi relativamente tranquila. No nervoso jogo de estreia, pressionou muito a seleção belga mas não conseguiu marcar, empatando por 0-0. No segundo jogo, com um time mais a vontade e contra um adversário mais fraco, mostrou boa parte do que era capaz de fazer e aplicou 5-0 contra a Coreia do Sul. No terceiro jogo chegou a abrir 2-0 mas permitiu o empate da seleção do México com um gol sofrido nos acréscimos. O empate selou a classificação como líder do seu grupo e o encaminhou a um confronto enjoado nas oitavas de final.

Um duro confronto contra a Iugoslávia e a vitória por 2-1, com direito a pênalti perdido pelo adversário e gol da vitória vindo apenas nos acréscimos, evitando o drama do Gol de Ouro. Nas quartas de final, uma partida das mais clássicas da história das Copas contra a Argentina e vitória por 2-1 graças a uma pintura de Bergkamp que deu a vitória a sua seleção. A seleção parou na semifinal após um jogo tenso contra o Brasil que foi decidido apenas nos pênaltis. Perdeu a disputa do terceiro lugar para a sensação daquela edição da Copa, a seleção Croata.

Essa geração teria uma segunda  chance de sucesso na Eurocopa de 2000, a qual seria sede junto com a Bélgica e assim, já estava classificada. A base não sofreu alterações e salvo um ajuste ou outro o time, agora comandado pelo ex-craque Frank Rijkaard, teria chance de fazer história em seus domínios.

A fase de grupos foi dominada pela Holanda que conseguiu 100% de aproveitamento batendo República Tcheca, Dinamarca e França, se credenciando ainda mais ao título. Nas quartas de final, um passeio sobre a Iugoslávia por 6-1 e novamente numa semifinal, novamente numa disputa de pênaltis, a Holanda seria eliminada, dessa vez para a Itália.

Novos nomes surgiram como os de Ruud Van Nilsterooy, Roy Makaay, Robin Van Persie, Wesley Sneijder e Arjen Robben e a Holanda continuou como forte potência no futebol mundial. Seu resultado mais expressivo foi o vice-campeonato em 2010 contra a Holanda. Na final, a Laranja Mecânica parou na trave e na perna de Iker Casillas e foi novamente batida na final. Resultados pós-2000:

Eurocopas: Eliminada nas Semis em 2004; Eliminada nas quartas em 2008; Eliminada na primeira fase de 2012.

Copas do Mundo: Não participou em 2002; Eliminada nas oitavas em 2006; Vice em 2010; Terceira colocada em 2014.

Atualmente a seleção passa por mais uma renovação sob o comando de Danny Blind. A Holanda carece de força nacional já que o campeonato vem perdendo força ao longo do tempo. O trabalho na base vem sendo desenvolvido e podemos destacar Georginio Wijnaldum (Newcastle), Luuk de Jong (PSV), Daley Blind e Memphis Depay (Manchester United) como novos expoentes da safra de jogadores junto aos experientes Robben (Bayern de Munique), Van Persie (Fennerbahçe), Sneijder (Galatasaray) e outros.

Nem sempre a vitória marca a história
Claro que vencer sempre é melhor. A maioria das equipes preferem ser lembradas pelos títulos conquistados mas as gerações dos anos 70 e 90 da Holanda foram além. A primeira, comandada pelo lendário Cruyff, marcou a história do futebol com o seu futebol total. A agilidade em campo, o toque e a posse de bola que mantinham o domínio sobre o adversário foi implementado ali e hoje podemos ver essa característica no Barcelona, por exemplo. A segunda, sob a batuta do craque Bergkamp, jogou também um futebol vistoso. A seleção se adaptava ao estilo de jogo do adversário, mesclando jogos em que tinha o total domínio sobre o adversário com partidas em que os lançamentos longos e gols de contra ataque eram a tônica.

A  verdade é que jogadores de ambas as gerações se destacaram como grandes nomes do futebol mundial em seus clubes. A história foi feita e a qualidade foi reconhecida por todos aqueles que gostam de futebol. As vezes essas duas gerações são até mais lembradas e comentadas do que a geração que levou o título da Eurocopa de 1988. A Seleção Holandesa pode ser conhecida como a Seleção do "quase lá" mas nunca foi conhecida por jogar feio ou por jogadores sem qualidade e que continuem assim. Uma hora os "Deuses do futebol" farão justiça e os títulos virão.

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