Por que a Bundesliga só tende a crescer

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A Bundesliga é considerada uma das grandes competições da Europa. Estádios quase sempre com lotação máxima, jogadores de qualidade, futebol rápido e dinâmico sem contar que é a liga do país que é o atual campeão mundial. Atrativos mais que suficientes para se sustentar como uma grande liga, correto? Nem tanto. Inglaterra, Espanha e Itália são ligas consideradas do mesmo “quilate” e operam de maneira diferente. 

A Bundesliga tem o seu próprio jeito de se manter. Diferentemente do Campeonato Brasileiro e praticamente igual a todos na Europa, o campeonato é gerado por uma liga de clubes e não pela DFB (Deutcher Fußball-Bund, Associação Alemã de Futebol). Isso implica em uma melhor organização e em acordos melhores para os clubes que participam do campeonato. A mentalidade também é diferente.

Primeiro por que a maioria dos clubes não é propriedade de apenas um dono (apenas Bayer Leverkusen e Wolfsburg são geridos por empresas). A maior parte dos clubes funciona no sistema 50+1 e ele funciona da seguinte maneira: torcedores possuem 51% das ações dos clubes. Isso praticamente impossibilita que o clube seja vendido para uma empresa ou um milionário que queira simplesmente ter um time. Esse arranjo também implica numa maior participação dos torcedores na própria vida do clube e obriga uma prestação de contas. Os diretores e presidentes são profissionais na área de gestão de negócios ou pessoas e isso dá o toque de profissionalismo necessário para seguir em frente.

Os clubes prestam conta anualmente a Federação Alemã de Futebol e, após isso é feita uma análise do balanço financeiro apresentado. A licença para competição é concedida apenas para os clubes que se apresentarem sem dívida ou com algum débito que o faturamento do próximo ano cubra. Existem punições que vão de multa a dedução de pontos nos campeonatos caso o time feche as contas “no vermelho”. Esses clubes só podem comprar um jogador após vender algum de quantia igual ou superior ao valor da compra.



Torcida é a principal fonte de renda para os times na Bundesliga. Foto: Paolo Bruno/Getty Images


Outra diferença é que a maior parte da renda do clube não vem do acordo televisivo. O acordo vigente (da temporada 2013-14 a 2016-17) vale um total de 2.5 bilhões de euros – um valor recorde para a liga e o que dá, aproximadamente, 628 milhões de euro por ano. A divisão dessa renda é feita de maneira proporcional a colocação de cada equipe na temporada. Os valores de patrocínio, merchandising também compõe parte da renda. A maior parte vem da renda dos ingressos vendidos por jogo. Tomando o Bayern como exemplo, temos 40% do estádio destinado a torcedores que não podem contribuir mensalmente com a equipe, os que compram ingresso para apenas uma partida – com um valor mais acessível. Outros 50% do estádio são destinados aos sócio-torcedores, que contribuem mensalmente com a instituição e que tem preços variados. O restante (10%) são destinados a torcida adversária.

O maior investimento ocorre no próprio futebol. Os estádios, a infra-estrutura ao redor dos mesmos, todo o ambiente que é criado para o jogo de futebol. Os contratos não são milionários, sendo que em média, 51% do valor total gerado pela liga (1.09 bi de euros) são gastos em salário. Para efeito de comparação, a Premier League gasta, em média, mais de 70% do valor gerado pela liga (2 bi de libras) com salários de jogadores. A riqueza gerada pelos clubes é revertida para o próprio investimento nas categorias de base ou na estrutura do clube para se manter saudável nos próximos anos.

Essa estabilidade financeira e o nível de revelações que tem surgido nos últimos tempos (Ozil, Muller, Draxler, Reus, Gotze, Neuer) já com o dinheiro desse sistema, eleva o nível dos clubes e faz com que jogadores estrangeiros também levem a liga como um possível destino. Na última janela a grande contratação foi Arturo Vidal. Chicharito, Januzaj, Schurrle, Xabi Alonso já saíram de outras grandes ligas para jogar na Alemanha. O meia Draxler, especulado na Juventus por toda a janela de transferência, trocou de clube, mas não de país, optando por ficar na Alemanha.

A verdade é que existe um estrutura sustentável que gere dos mais poderosos aos menos conhecidos. Campeonatos Sub-17, Sub-19, as divisões profissionais e amadoras são realmente pensadas com um objetivo: atrair torcedor para o estádio. Essa missão tem sido cumprida com louvor já que o campeonato alemão tem a maior taxa de ocupação por estádio. Não se assuste com o quanto a liga tem evoluído e se, daqui mais alguns anos, se tornar um dos principais destinos das maiores estrelas do futebol. 

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