Sobre os protestos corintianos
Durante
todo o mês de fevereiro, protestos por meio de faixas têm sido vistos nos jogos
do Corinthians na área destinada a suas torcidas organizadas. O estopim de tais
acontecimentos foi uma suspensão de 60 dias aplicada à Gaviões da Fiel, por
sinalizadores levados ao Pacaembu na final da Copa São Paulo de Futebol Junior,
no dia 25 de janeiro. Além da suspensão, o clube também teve que pagar uma
multa de 10 mil reais.
Assim,
no dia 11 de fevereiro, no intervalo da partida contra o Capivariana,
torcedores abriram faixas de protesto com dizeres como: “jogo às 22h também
merece punição”, ”Rede Globo, o Corinthians não é seu quintal” e “cadê as
contas do estádio”. As frases, que até então tinham como crítica o preço dos
ingressos e o horário dos jogos, não feriam o estatuto do torcedor, que proíbe
o uso de faixas com expressões com cunho ofensivo e de descriminação. Mesmo
assim, as faixas foram retiradas pela Polícia Militar.
No
dia 14, entretanto, as manifestações ganharam um apelo político. Frases contra
a corrupção na CBF e na Federação Paulista de Futebol (FPF), além de uma referência
clara ao deputado estadual Fernando Capez: “quem vai punir o ladrão da merenda”.
O deputado foi citado por delatores como um dos beneficiários em um esquema de
pagamento de propina em contratos superfaturados de merenda escolar, além de
ser abertamente um defensor do fim das torcidas organizadas. Com uma pausa,
feita pelo arbitro no inicio do segundo tempo, a policia interviu mais uma vez.
O Bom Senso Futebol Clube lançou no dia 17 a
campanha #LiberaFaixa e manifestou-se para defender o direito de protesto junto
aos torcedores. A FPF então emitiu um comunicado em que dizia não vetar as
manifestações e reprovar as ações da Policia Militar. É importante lembrar que
os protestos dos corintianos têm aspecto muito parecido com o de outras
torcidas ao redor do mundo, como as do Liverpool, na Inglaterra, e do Borussia
Dortmund na Alemanha, que tiveram repercussão positiva ao demonstrar a
insatisfação quanto à venda de ingressos.
O
futebol há muito tempo, deixou de ser apenas um entretenimento. Bem como os
torcedores não são apenas espectadores. Ele faz parte, não só da cultura
brasileira, como de diversas outras e por isso, toda manifestação pacífica nesse
meio é válida. Se já tivemos diversas campanhas dentro dos próprios estádios
contra descriminações no esporte, ações como a da torcida do Corinthians não
deveriam ser interrompidas.
Apesar
da repercussão baixa, a opinião principal estampada nas faixas não parece ser
um sentimento isolado. Retornar para casa depois de apoiar seu time por 90
minutos, no começo da madrugada, é realmente um fator que deve incomodar a
maior parte da torcida e até mesmo impedir muitos de verem seus times de perto.
Quanto aos protestos de caráter político, é justo usar a visibilidade que o
futebol trás como o esporte mais popular do país, uma vez que seja usada para
denunciar injustiças.
Os
últimos protestos nas arquibancadas ocorreram nos dias 27/02, no qual não
ocorreu intervenção alguma, e 02/03. O primeiro contou com a frase de apelo
internacional “football without fans is nothing” (futebol é nada sem fãs). No
segundo, as faixas foram mostradas pela primeira vez pela Rede Globo, além de
terem sido comentadas por Galvão Bueno. O narrador disse que três emissoras
transmitem a Libertadores, mas a Globo é a única que o faz de graça, devido ao
sinal em TV aberta. Ele também afirmou que: “Protestar é um direito de todo
cidadão”, em defesa da manifestação.
2 comentários
Se a Globo se vangloria/defende-se por ser a única que transmite grátis, em relação as três detentoras, por que ela não abre mão do monopólio então? Engraçado isso não é? Um abraço e parabéns pelo artigo!
ResponderExcluirSe a Globo se vangloria/defende-se por ser a única que transmite grátis, em relação as três detentoras, por que ela não abre mão do monopólio então? Engraçado isso não é? Um abraço e parabéns pelo artigo!
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